quinta-feira, dezembro 28, 2006

A Renamo por fora

Por Lázaro Mabunda

“... É extremamente crucial, e sem manipulações, que se dê chance às poucas mentes estruturadas para se afirmarem no Partido. A não acontecer, os poucos quadros abandonarão a casa e, por fim, ficarão os donos a baterem-se até a morte definitiva da Renamo”, profetiza Benjamim Pequenino, na sua polémica e arrasadora carta intitulada “A Renamo por fora”.

Hoje, não basta sonhar numa vitória, ou em alcançar qualquer objectivo sem nenhum projecto. Tudo o que se deseja alcançar no futuro passa, necessariamente, pelo desenho de um projecto claro, directo e objectivo. Mudam os tempos, mudam as vontades, e também mudam as mentalidades. Estamos numa altura em que é indispensável acompanhar o tempo para não se ficar ultrapassado.

“A vitória prepara-se, a vitória organiza-se”. Esta frase, mais do que uma transpiração, foi uma inspiração de Samora Machel, e não uma obra do acaso. Tempos existiram em que se acreditava mais num futuro predestinado do que no futuro resultante de um trabalho aturado do homem – os tempos de “se Deus me criou dar-me-á o que preciso”. Hoje, qualquer vitória na vida é resultado de um projecto equilibrado.

É o mal da Renamo. Acredita mais no que já não se acredita, em detrimento do futuro. E como resultado, as revelações de Pequenino parecem estar a tornar-se reais: muita sangria nas suas fileiras (Assane Saíde, candidato derrotado nas intercalares da Mocímboa da Praia, depois o chefe de gabinete central de informação, recentemente a delegada provincial de Maputo e muitos outros, e nenhum trabalho, senão acusar a Frelimo de estar a aliciar os seus membros. Mesmo que tal seja verdade não é crime, é resultado de um projecto político concreto para superar o seu adversário, pelo que as acusações, só por si, são nulas. Mais do que acusar a Frelimo, a Renamo devia também desenhar um projecto para retaliar a ofensiva do seu adversário. Os discursos repetidos tantas vezes cansam e tornam-se vazios.

Os problemas são resolvidos internamente para manter uma boa imagem fora. O que acontece, é o que Pequenino apelida de “lutas canibais internas”. Essas lutas, segundo ele, são “agudas que me fazem pensar que se estivéssemos ainda em tempo de guerra estaríamos a perder homens com ataques cobardes internos. As lutas são atiçadas de cima, e colegas nossos instrumentalizados iniciam o fogo antes ou durante programadas reuniões, aparecendo depois o chefe como quem quer apagá-lo. Faz parte da táctica de aniquilamento do ‘adversário’ interno, parte da estratégia de sobrevivência”. A Renamo foi transformada, pelos seus responsáveis, numa coisa menos séria, numa organização política bem desorganizada em que, aparentemente, a estratégia assenta na sobrevivência de uma menoria.

O País 07/08/2006

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