segunda-feira, dezembro 11, 2006

Vale a pena ser deputado!

Apreensões

Por: Edwin Hounnou

Gostaria de ser deputado para ter um salário chorudo de 82,5 milhões de meticais. Para além de um grande salário, mordomias, subsídio de representação, cozinheiros, porteiros, motoristas, jardineiros, guardacostas.
Passear com uma longa fila de motos, carros de luxo, ambulância incluída que falta aos hospitais.
Valeu ter ameaçado denunciar os corruptos que, às corridas, o indicaram para se sentar no cómodo cadeirão para presidir aquilo que chamam de grande casa das leis. Em consciência não poderia exigir. A zanga termina e a camaradagem a todos cobre. A paz, a tranquilidade e o sossego reinam na casa quando se trata de salários e subsídios para o deputado.
Se for pedir demasiado, então, que eu seja um dos “egrégios” da Comissão Permanente, daqueles que ladeiam Mulembwe, que assistem o bater do martelo, a aprovar salários consensuais de 46,6 milhões de meticais acrescidos de invejáveis regalias.
Um carro protocolar, outro para levar os meninos à escola, fazê-los passear e levar a madame ao serviço para se refrescar com a brisa marítima da marginal.
Por vezes, o motorista acompanha a senhora às compras e ao salão de beleza. A isso chamam de aprofundamento da democracia no Estado de Direito onde uns comem tudo e não deixam nada e outros não comem nada.
Na questão dos salários para os deputados, não há diabos comunistas a comerem os meninos, nem bandidos armados que pilaram mulheres grávidas. Há consensos, paz e tranquilidade nos corações dos representantes do povo.
O silêncio e as contas para melhorar a vida correm veloz. Novos projectos se embandeiram. Suspiram quando o martelo quebra o silêncio. Quem disse que não é mesmo maningue nice ser deputado! Não custa fingir!
Na pior das hipóteses, quando nada se pode fazer, deixem-me, ao menos, ser um simples deputado com o magro salário de 28,5 milhões de meticais, equiparado ao soldado raso que dorme em beliche e come sadza/xima com peixe assado.
Os deputados rasos são comparáveis a passageiros da classe económica de um avião comercial cujo nome é AR, também nos meandros do taxo por Assembleia da República. Eu não gostaria ser do povo.
Queria representá-lo e fingir falar em seu nome. Aquele cujo salário é de 1.450 mil meticais, sobre quem os falsos empregadores da CTA diabolizam a ministra do Trabalho.
Não quero ser aquele a quem quando despedido vai com uma mão em frente e outra atrás e ainda dizem quem muitos direitos que urge eliminar. Quero ser deputado e não aquele a quem a CTA quer depenar. Na casa das leis, pode-se todos os cinco anos ou mais.
Não há CTA para andar a chatear.
Ser deputado é uma ponte que liga entre a margem onde não tem nada e a outra onde existe tudo em abundância. Quero ser deputado para deixar de viver sob a linha da pobreza de que tanto gostam de repetir como se fosse coisa boa. Com a distribuição massiva de carros 4X4 para cada deputados, esperamos para ver qual será a próxima desculpa para continuarem a não trabalhar.

O AUTARCA - 14.11.2006

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