segunda-feira, novembro 10, 2008

OBAMA (…) É JOVEM (…) É BONITO E (…) É BRONZEADO:

DIALOGANDO

Por JOÃO Craveirinha


Excerto de citação de Berlusconi de Itália com Medvedev na Rússia:

COMENTÁRIO:

A contradição da história: - É preciso um político italiano de direita, direitíssima, amigo do actual Presidente George W. BUSH (EUA), para dizer direito sem ismos e (pré) conceitos eurocentristas, agora muito na moda na Europa, em particular em Itália. Trata-se de Sílvio Berlusconi, Presidente de Itália na visita à Rússia quando dissertou, breve, perante a imprensa e o Presidente russo, Dmitri Medvedev: - “ambos jovens e bonitos e da mesma geração” comparando-os com humor no elogio ao Presidente eleito Barack OBAMA: "Ele é jovem, ele é bonito e ele é bronzeado" –, enfatizou Berlusconi, olhando para Medvedev.

Foi dito num tom simpático bem italiano (quando o quer ser) sendo um povo dos mais “bronzeáveis” da Europa do mediterrâneo. Factor da glândula melanina da mistura de séculos no povo italiano. O actual Presidente de Itália, pelo menos, disfarçou muito bem em visita à Rússia. Um exemplo que muitos portugueses e a imprensa e os políticos e académicos e jornalistas em Portugal, deviam seguir, e, não ficarem ressabiados porque um “bronzeado” (entre aspas) se tornou no futuro recente – homem mais poderoso do mundo. Os portugueses nativos lusitanos se esquecem que há em Portugal cerca de 1 milhão e meio de “bronzeados” cidadãos portugueses tal como Barack Hussein OBAMA. Número aumentado espantosamente após o 25 de Abril de 1974, com as independências das colónias portuguesas em África. Cerca de 15% da população portuguesa são “negros e afins”.

O “efeito OBAMANIA” começou a se esboçar na Europa, antes da sua vitória, com algumas manifestações em entrevistas e em blogs dos chamados negros europeus: “Noirs Européens” ou “Black Europeans” – NEGROS EUROPEUS em França e na Inglaterra (incluindo os ditos mestiços). Isto é, os cidadãos de origem africana e das Caraíbas nascidos (2ª, 3ª e 4ª gerações) ou a viverem também como cidadãos europeus por terem a nacionalidade desses países. A Inglaterra e a França e a Suécia tiveram e tem ministros, secretários de estado, embaixadores e por quase toda a Europa comunitária há elementos “soi disant” negros na política e em cargos de chefia na função pública, polícia, magistratura, et cetera.

Como vêm não é somente nas selecções de futebol europeias onde há “bronzeados” com uma nacionalidade europeia.

Portugal ainda “dorme” apesar de nos partidos com assento parlamentar, haver elementos portugueses “bronzeados” (“negros” portugueses mais claros e mais escuros). No parlamento português há dois deputados. Um no partido de direita CDS (mais a extremo). E outra, uma senhora vice – presidenta do parlamento. Para a propalada “convivência de 5 séculos” em África é cousa pouca. Sem expressão cívica por passar despercebido ao comum do cidadão de Portugal onde predomina em força o ismo contra “o bronzeado” apesar de no verão todos querem ficar bronzeados. No entanto não assumindo essa cor de pele “enegrecida” como mais valia social perante à presença de outros “bronzeados” naturais” – a que chamam com desprezo de “esta gente”, no sentido de ser uma perda de tempo pelo atrevimento em não aprenderem o seu lugar na sociedade em Portugal. O mundo avança contra os “ismos” e Portugal conservador continua adormecido (por opção cultural e sociopolítica dos “ismos”).

Há ideia de um pressuposto de um efeito OBAMA na Europa, assusta e “tira o sono” à maioria do português nativo lusitano em Portugal mais que nos próprios Estados Unidos da América (incrível). Verificável pelos debates, comentários na rádio e televisão e na comunicação social portuguesa, antes e depois das eleições. A excepção só confirma a regra. Por isso a esses portugueses e portuguesas de excepção não se aplica este texto. Estão contra a corrente geral do estabelecido (main stream).

No Brasil e nos brasileiros, graças ao Presidente LULA (independente de tudo o mais) tem mudado o preconceito institucionalizado desse Brasil, herança de um sistema escravocrata colonial português, mantido na mente ainda hoje, quer do mentor europeu quer do alvo dessa discriminação – o “bronzeado”. Séculos não se curam em décadas. O Holocausto judeu todo o mundo fala e foi “reparado”. Do Holocausto africano ninguém quer falar. Sentem-se todos incomodados. OBAMA lembrou a escravatura no seu primeiro discurso presidencialista. E ele nem descende de escravos afro-americanos. Por isso está mais “livre” de o fazer e libertou o dito “africano-americano” e mesmo o “euro-americano” do estigma da escravatura no imaginário colectivo. “YES WE CAN”. Um dia o Brasil terá o seu OBAMA (mais escuro, porque mais claro já o têm – Presidente Lula da Silva). Podem escrever. O meu sentido de premonição tem acertado. Em Dezembro de 2004 escrevi e publiquei para fixarem o nome desse jovem senador “bronzeado”, Barack OBAMA. Todo o mundo me chamou de louco; complexado; recalcado; et cetera. (Ainda há quem me chame assim - sobretudo na dita lusofonia e em Portugal e “tugas” no Brasil e em África, e, se calhar alguns até aqui no recanto das letras e no jornal Autarca…kakakaka). Sem crise tenho costas largas. Podem bater com o látego da ignorância e do preconceito dissimulado e depois nem precisam deitar vinagre e sal para cicatrizar as feridas como nos tempos da escravatura no Brasil. Minhas costas de “visionário” são de aço inox, chapa tripla. Rsrsrs (risos). Prefiro um racista assumido ou assumida …a um paternalista ou maternalista que vêm com falinhas mansas pra boi dormir. E como não sou boi, que caia fora. Kakakaka... (rio ao escrever para não ser idiota e chorar).

Quando predisse que OBAMA podia um dia chegar a Presidente dos Estados Unidos foi em Dezembro de 2004. Surgiram tons de indignação e de incredulidade contra a minha afirmação tanto dos que se chamam a si mesmo de brancos (no topo) como os que aceitam a imposição vertical de serem negros (na base) e não simplesmente seres humanos ou gente, pessoa. Quando os europeus chegaram à região subsaariana, que chamariam de África Negra (1441-45) os africanos pré-coloniais não tinham o conceito de branco e preto ou negro para gente europeia e africana na cor da pele. Na África Austral, chamavam-se a si mesmos de ba-NTO: pessoas, seres humanos. (A norte do continente os europeus, chamariam de África branca por ocupada por mestiços de árabes com os “demasiado bronzeados”). “Ba” de baNto, é prefixo para plural. “Mu” para singular. MuNto pessoa; baNto; pessoas, seres humanos. No mundo todos somos baNTo. A importância do “bronzeado” OBAMA, está não só no “livro novo” na história dos EUA, mas sobretudo quando ele se refere que na América não há cores de pele mas “people” (pessoas) – seres humanos. Deve ser do ADN baNto africano que também possui, misturado com o anglo-saxónico, que lhe dá essa dimensão de “homem global” no melhor sentido da palavra. No fundo OBAMA e todos nós, somos afinal simplesmente baNTO. Todos sem excepção mesmo os que nos estão a ler neste momento.

Foto: AFP
João Craveirinha, Olisipo, 7 Novembro 2008. Sexta-feira: 02h33.

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