quinta-feira, agosto 20, 2009

Uma juventude à MC Roger é perigosíssima

Por Lázaro Mabundo

Há muito que queria abordar o tema sobre o que penso da juventude moçambicana, mas julguei que era ingra­to e desnecessário reduzir a dimensão do assunto a um simples exercício “lambe-bótico” de MC Roger. Seria exaltar uma anomalia de memória em vez de curá-la. Assim, tinha que esperar que uma oportunidade sur­gisse para o efeito. E surgiu. 12 de Agosto, dia Mundial da Juventude. Aí já se justifica fazer uma reflexão sobre a juventude moçambicana, da qual o fenómeno “MC Roger” deve ser usado, como exemplo, para que a juventude possa, a todo o custo, evitar. Uma enfermidade que se deve combater antes de afectar e infectar a maioria da juventude. Um indivíduo que jura a pés juntos que quem assinou os Acordos de Paz foi Guebuza é perigosíssimo para a nossa sociedade, sobretudo para as crianças. Mas vamos por partes.

1. Nas vésperas de 12 de Agosto, o Conselho Nacional da Juventude or­ganizou uma conferência de imprensa na qual o presidente da agremia­ção, Osvaldo Petersburgo, anunciou o envio ao Governo de uma carta em que a juventude manifesta a sua vontade em relação às preocupações que gostaria que fossem resolvidas, no próximo quinquénio. Disse ainda que o Conselho Nacional da Juventude não estava para fazer questionamen­tos sobre o que os políticos trazem nos seus manifestos à juventude, mas apresentar, em carta, a vontade dessa juventude. Entendi que se tratava de uma indirecta ao Parlamento Juvenil que tem vindo a realizar debates com candidatos às próximas eleições com vista a saber o que eles têm para os jovens nos seus programas eleitorais.

Os pronunciamentos de Petersburgo encerram várias interpretações: primeiro, que no seu entender o jovem não deve questionar, senão devem apresentar, em documento, as suas preocupações; segundo, que ele as­sume o compromisso político com o partido no poder, pelo facto de ter entregue ao Governo a referida carta de manifestação das preocupações dos jovens e não a todos os candidatos; terceiro, que assume que o partido com o qual está comprometido já venceu, antecipadamente, as eleições; quarta, demonstra que é ainda “verdinho” para o cargo que ocupa, pelo facto de não saber o que diz, onde diz, como diz e por que diz. Aliás, o seu representante no “Debate da Nação”, da STV, provou isso ao não conseguir responder sequer, com propriedade, uma pergunta sobre que projectos o CNJ tinha para a juventude.

Quando ouvi as suas declarações fiquei com a sensação de que se trata de um jovem prematuramente atirado à liderança do CNJ, sem que, a prio­ri, se tivesse observado a sua maturidade como pessoa. Fiquei ainda com a sensação de que é um jovem que ainda vive de emoções e de sonhos cor-de-rosas, e com um forte padrinho no seio do partido Frelimo. Conheço a OJM por dentro e por fora, não seria capaz de apostar em alguém política e socialmente tão verdinho, como ele.

Por outro lado, indigna-me o facto de a OJM colocar-se em frente na eleição do presidente do CNJ, quando ela mesma não consegue revitalizar-se, o que a torna numa organização, até este momento, moribunda e em falência técnica. OJM existe estruturalmente, no entanto, não existe em termos de acção e da presença física, senão alguns núcleos resistentes, mas fragmentados. Também em fase de morte lenta.

Eu nunca assumirei alguém como meu representante, como jovem, que não sabe que o CNJ sempre manifestou publicamente e por escrito as preocupações da juventude moçambicana, sem, contudo, uma resposta desejável do Governo. E se durante todos esses anos não houve resposta, julga, Petersburgo, que desta vez será possível? Tentar passar certificado de incompetência aos que já passaram pelo CNJ é um exercício inútil e desprovido de sentido.

Hoje, porque a resposta demora, a juventude tem de tomar uma posição única e forte no sentido de pressionar o Governo a fazer algo por nós. E a pressão não deve ser feita por simples rascunhos, mas por aquilo que o Par­lamento Juvenil, uma organização cujos objectivos sempre questionei, está a fazer. Os políticos devem passar a apresentar os seus manifestos eleitorais à juventude para que esta possa avaliá-los e, em função disso, escolher o melhor.

Creio ter chegado o momento de votar em função do projecto político e não das simpatias políticas. Pois, é isso que nos tem colocado sempre na situação de desfavorecidos, quando somos a maioria em Moçambique. Te­mos de seguir, a partir deste ano, os modelos ocidentais e americanos, em que os políticos são responsabilizados pelos seus erros e pelo seu desempe­nho e são votados em função dos seus projectos políticos. Obviamente, tem de ser alguém que nos apresente um projecto alicerçado na nossa realida­de, e com orgulho de ser moçambicano.

2. O Chefe do Estado, Armando Guebuza, disse, na sua mensagem, à ju­ventude, esta semana, que “Os jovens foram, são e serão os motores de todos os processos sociais e políticos nesta pátria de heróis e, por isso, deverão ser os primeiros mobilizadores de todos os eleitores para a sua afluência mas­siva aos locais de votação”. Muito bem. Mas também a juventude não pode ser a primeira a ser desmobilizada quando se trata de receber os benefícios resultantes do esforço que fez para mobilizar os eleitores. Ou seja, se “os jovens foram, são e serão os motores de todos os processos sociais e políticos e deverão ser os primeiros mobilizadores dos eleitores”, também devem ser dos primeiros contemplados pelos programas do Governo.

Hoje, a maioria dos jovens não possui residência própria, nem sequer um terreno para erguer, no futuro, sua residência. Se há jovens com terrenos próprios, adquiriram-nos de terceiros, e a preços proibitivos. Compraram a terra, porque a terra vende-se neste país, não obstante a Constituição da República proibir. Os que vendem a terra são, na sua maioria, pessoas com poder de decisão sobre a atribuição da mesma terra. Não queremos casas, porque sabemos que o Governo não dispõe de fundos para as construir, mas apenas terra.

Em Moçambique, é mais difícil obter um espaço para erguer algo do que construir uma palhotinha. Que o digam professores, polícias, milita­res, incluindo jornalistas, serventes, entre outras. Muitos jovens, hoje em dia, se não vivem, mesmo casados, em casa dos seus pais, residem em casas arrendadas. Grande parte das casas arrendadas nas cidades estão ocupa­das pelos jovens, algumas sem mínimas condições de habitabilidade. São esses jovens que hoje são chamados de forma carinhosa para mobilizar indivíduos economicamente estáveis para irem votar em alguém que pou­co os ajuda.

Essencialmente, nós precisamos de uma juventude irreverente, uma ju­ventude que imponha respeito, à semelhança da Juventude do ANC. Preci­samos de um líder da juventude “arrogante” à semelhança de Julius Male­ma, presidente da Liga Juvenil da ANC, que age em função da razão e não da disciplina partidária. Temos de aceitar sermos sacrificados por causa da razão e não vivermos à custa do sacrifício da razão.

Nós temos que obrigar os políticos, sejam eles arrogantes ou não, en­deusados ou não, a ajoelharem perante nós jovens, a pedir apoio e não o contrário. Nós temos também de reduzir à insignificância e ao mínimo, a juventude que se revela perigosa para as nossas pretensões. Jovens como MC Roger (ainda é jovem?), Petersburgo, Rui de Sousa, entre outros, cons­tituem cancro para o futuro e para o bem estar deste país, pelo que urge erradicá-los. Um jovem político ou umbilicalmente ligado a determinado partido político tem de agir em obediência à sua consciência, e não violá-la por disciplinas partidárias.

Nós somos livres de pensar, expressar e movimentar, à semelhança de Jorge Ribelo, António Frangoulis, Jacinto Veloso, Graça Machel, e outros, que dizem o que pensam, como pensam e por que pensam, sem receios de disciplinas. Aliás, as disciplinas partidárias não podem acorrentar as men­talidades dos seus membros sob pena de coarctar o seu direito.

Nós os jovens, sobretudo as organizações juvenis, como OJM, Liga Juvenil da Renamo, do MDM, CNJ, temos de conquistar o nosso espaço e influen­ciar, de forma decisiva, as políticas partidárias e, consequentemente, gover­namentais. Essas organizações juvenis, mais do que servirem de reprodu­tores e caixas de ressonância de partidos políticos, têm que criar debates e produzir ideias que deverão ser abraçadas pelos respectivos partidos. Isso será possível se tivermos pensamento e ideias próprias. Aliás, têm de ser os próprios jovens a influenciar os seus partidos políticos a incluir nos seus manifestos eleitorais interesses dessa camada, à semelhança do que acontece na África do Sul, em que a Liga de Juventude do ANC é uma autoridade. Qualquer jovem, independentemente da sua cor partidária, sente-se representado por ela.

Fonte: O País online

2 comentários:

Miller A. Matine disse...

GOSTEI PASSEAR POR AQUI

Reflectindo disse...

Obrigado pela visita, Lepidóptero. Venha sempre!

Abraco