sexta-feira, março 05, 2010

Um ponto de vista de Mouzinho de Alburquerque (1)

Inhambane não é uma excepção

SAMORA Machel disse uma vez em Cuba, perante centenas de estudantes moçambicanos naquele país da América Central, que seria estupidez que ele ouvisse que entre eles havia tribalismo e regionalismo, pois foi na perspectiva de combater isso que o governo decidiu enviar os estudantes de todo Moçambique para lá.
Este pronunciamento que sempre retive e continuarei a reter, já foi aqui referido alguma vez e prefiro repetir tendo em conta o seu grande ensinamento e apelo para a necessidade de os moçambicanos trabalharem cada vez mais para a consolidação da sua união.
É por isso que disse na crónica sobre a governação de Nampula, estampada neste cantinho, que quer aceitemos quer não, a questão da governação no nosso país continua a não ser aparentemente compreendida, no sentido de que esta nação é de todos, somos um povo unido.
Quase todos os dias são proferidos discursos que apelam para a necessidade de valorizarmos e consolidarmos a unidade nacional, porque só assim é que nunca estaremos preocupados em procurar saber se o nosso novo governador provincial nomeado pelo Presidente da República é de cá ou de lá, isto é, se ele é chope ou não, é macua ou não, é changana ou não, é ronga ou não, é maconde ou não, assim por diante.
Destaquei. Igualmente, o facto de ser imprudente e perigoso e não ter qualquer razão os que continuam a propalar, talvez insensatamente que os que nasceram aqui (referindo-se a sua própria terra) sentem-se frustrados, porque só servem para andar às ordens e serem dirigidos pelos de fora.
Ou sentem-se frustrados porque a alegam tradição (?), não aceitam serem dirigidos por um que vem de fora. Quer aceitemos quer nao, esta mentalidade tribalista e regionalista que preciso combater continua cultivada na sociedade moçambicana.
Isto vem a propósito de ter lido e ouvido com alguma tristeza e estranheza, depois de anúncio do novo executivo formado pelo Presidente Amando Guebuza, algumas “lamentações” que acho um tanto quanto descabidas, de que a província de Inhambane sempre recebeu governadores novos e sem experiência de governação, isto é, aprendizes, que no entender dos que lamentam acabam estragando as “coisas”.
Leio e ouço com estranheza porque isso não constitui verdade, compatriotas! Do que se tem conhecimento é que alguns desses “aprendizes” da governação fizeram um bom trabalho naquela província. E quase todas as províncias, em cada novo mandato de governação do país, depois da realização de eleições, recebem novos governadores e nunca houve aparentes lamentações ou questionamentos e porque Inhambane deve ser uma excepção?
Quero acreditar que na essência o problema não esteja aí, mas sim, nos preconceitos tribais e regionalistas que algumas pessoas teimam em preservá-los, mesmo que dominem a ciência e a técnica e sabendo, em certos casos, que um da sua tribo ou família foi nomeado pela primeira vez para o cargo de governador de uma província do nosso país.
Porém, antes de mais, eu já deveria ter manifestado a minha perplexidade pelo facto de alguém evocar, igualmente, factores sócio-culturais e económicos para se ser governador da província de Inhambane. Mas porque optarmos pelo provincianismo incompatível com os tempos de hoje? Inhambane é uma qualquer província como as outras deste país.
Isso não só mostra que as pessoas estão completamente fora da actual realidade do nosso país, como já não parecem ter capacidade de análise sobre a responsabilidade que lhes cabe, também na educação da sociedade para a necessidade de combate ao tribalismo e regionalismo. Ainda bem que essas pessoas estão ficando cada vez mais sós.
Se o Presidente da República tivesse em conta esses factores, na nomeação de governadores provinciais, acredito que nenhum estaria em condições de exercer essa função numa província onde não fosse natural e já foi visto que não precisamos de governadores naturais, porque isso além de diluir a unidade nacional tem outras desvantagens.
É verdade que para alguns compatriotas pode não ser fácil fazer tanto em pouco tempo, isto é, em 35 anos de independência, no combate a este tipo de situações anómalas, com a consciência de que somos um país que durante a colonização estrangeira, o tribalismo e regionalismo estiveram muito enraizados, fomentados pelos colonizadores, mas já é tempo de se ultrapassarem estes males.
Portanto, penso que vale a pena recordar que se o discurso do estadista Samora Machel nos orgulha, o presente faz-nos sentir que o futuro está aí. É muito mau termos a ilusão de que os naturais das províncias é que devem ser governadores, porque alegadamente conhecem a realidade sócio-cultural e económica. Mas qual cultura?

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