domingo, agosto 15, 2010

Naufrágio

A talhe de foice

Por Machado da Graça

A gasolina continua a subir de preço e tudo leva a acreditar que vai continuar a subir.
A inflação continua a subir e tudo leva a acreditar que vai continuar a subir.
O Metical continua a desvalorizar-se e tudo leva a acreditar que vai continuar pelo mesmo caminho.
A opinião pública está alarmada, com o custo de vida a subir muito e depressa demais para a nossa capacidade de absorvermos o choque.
Interrogados pelos órgãos de informação, os responsáveis máximos das nossas finanças põem o ar de criancinhas apanhadas em falta e dizem que é a crise e que, muito provavelmente, as coisas vão continuar a piorar.
Nenhum deles, até agora, foi capaz de dar alguma ideia de como se vai sair desta situação.
Aparentemente sabem tanto qual é a solução como eu ou o leitor amigo. Só que eu e o leitor não somos pagos para isso e eles sim. Salários e restantes regalias.
Quanto a mim esta situação começou a desenhar-se quando a anterior Primeira-ministra veio a público dizer que Moçambique não seria atingido pela crise, que batia já à porta do resto do mundo.
Porque, das duas uma, ou a Dra. Luísa Diogo não acreditava naquilo que estava a dizer, o que é grave, da parte de uma pessoa com as responsabilidades que ela tinha naquela altura, ou acreditava, o que é igualmente grave e com piores consequências.
No primeiro caso, estaria a mentir, por razões políticas só por ela conhecidas, mas teriam sido começadas a
tomar as providências necessárias para enfrentar o que por aí vinha.
No segundo caso, que hoje parece o mais provável, ela não terá achado necessário tomar providências nenhumas e o resultado é este que temos agora nas mãos.
Como agravante de tudo isto, o ano passado foi de eleições e o partido no poder, com a ganância de obter uma maioria esmagadora nessas eleições, foi colocando almofadas em vários sectores da economia, gastando aquilo que tinha e o que não tinha. Tudo para evitar qualquer insatisfação do eleitorado antes de ele ir colocar o seu voto nas urnas. O que viria depois, depois se haveria de enfrentar.
É o mesmo objectivo que leva às graves irregularidades que caracterizaram o processo eleitoral. Tão graves que irritaram profundamente a comunidade internacional, de onde nos vem cerca de metade do Orçamento Geral do Estado. E o resultado foi que o grupo dos principais parceiros do nosso país fez uma espécie de greve e atrasou a entrega de fundos ao OGE, fazendo estremecer, ainda mais, todo o nosso edifício financeiro.
O que quer dizer que a tal vitória eleitoral da Frelimo, com os números que todos conhecemos, está a ser paga agora, pesadamente, com os números financeiros que nos esmagam.
Mas será que, ao menos, aprendemos a lição?
Infelizmente tenho a sensação que não.
Muito recentemente a Frelimo veio dizer que se prepara para rever a Constituição. E as especulações que se
fazem é que essa revisão será no sentido de permitir mais um mandato presidencial a Armando Guebuza. Ou, pelo menos, o prolongamento do actual segundo mandato para um total de 7 anos, em vez dos presentes 5.
E, caso isso se confirme, fica a parecer que todo este frenesim de presidências abertas tem, principalmente, o objectivo de ser uma previa campanha eleitoral para preparar o país para essa revisão.
Só que isso, mais uma vez, é feito sem olhar aos custos, com rios de dinheiro a percorrerem os motores dos
vários helicópteros em que a comitiva presidencial se desloca, saltitando diariamente de um lado para o outro do país.
E o preço dos helicópteros (que, sendo alugados no estrangeiro, estão a pagar ao dono quer estejam a voar, quer estejam parados), sendo provavelmente o mais volumoso, está longe de ser o único nessas deslocações. Todas aquelas pessoas têm que ser alojadas e alimentadas, imagino que muitas tenham as chamadas ajudas de custos e por aí adiante.
Por outro lado os ganhos para o país destas deslocações são magros. Nada que governadores provinciais activos não tivessem obrigação de fazer chegar à Presidência da República por um preço muitíssimo mais baixo.
Mas os governadores são o que são e podemos avaliá-los pelos relatórios que cada um faz quando Armando Guebuza visita as suas províncias. Todos eles, sem excepção, anunciam taxas de crescimento económico das suas províncias acima dos dois dígitos.
Ora, sendo o país a média de todas as províncias, como se compreende que o crescimento nacional seja muito mais baixo? Ou mentem os governadores ou mente o governo central pois, matematicamente, não pode haver outra explicação.
Tudo isto para dizer que me parece que estamos todos num barco furado, metendo já bastante água, com uma tripulação que não sabe resolver o problema e um comandante a pensar em futuras glórias.
Convenhamos que não é um pensamento reconfortante.
O leitor tem bóia? Sabe nadar? Eventualmente umas orações possam ser de ajuda.
Para quem acredita nisso...

Fonte: SAVANA, in Diário de um sociólogo - 13.08.2010

1 comentário:

Abdul Karim disse...

Deus existe,

Boias 'e que sao o problema, nao temos suficientes.