quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Sobre o partido Frelimo e as metamorfoses (1)

Por João Baptista André Castande

É bastante interessante o debate organizado pela Televisão de Moçambique (TVM), sob a moderação do jornalista Simeão Ponguana, acerca dos chamados 50 anos da Frelimo, a serem completados no dia 25 de Junho do ano em curso.
 
Salvo o erro, é um conjunto de quatro historiadores seleccionados que formam o painel principal do debate em alusão, sendo o painel secundário constituído por telespectadores que a TVM lhes tem concedido alguns minutinhos para, via telefone, exporem as suas ideias sobre o tema.

A minha opinião é de que o debate do tema poderia ser mais profícuo e quiçá abrangente se o painel principal fosse composto por personalidades formadas em diversas áreas do conhecimento como, por exemplo, em Ciências Políticas e Sociais, Linguística, História, Direito, Filosofia e outras. É que da forma como agora está formado o referido painel, o debate do tema só podia ser mórbido, como aliás o é, exactamente por inexistência de pontos de vista divergentes entre os seus componentes.

Não defendo a invenção de pontos de vista divergentes apenas para animar o debate, mas julgo que nenhum jurista concordaria que o actual Partido Frelimo, criado em Fevereiro de 1977, é aquela FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique, fundada em Dar-es-Salaam, Tanzânia, a 25 de Junho de 1962, porquanto esta e aquele são duas pessoas distintas não só juridicamente, como também politicamente!
E para justificar a não existência de diferença entre o Partido Frelimo e a Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO, um dos componentes do painel em alusão dizia que as metamorfoses pelas quais a FRELIMO passou de algum tempo à esta parte não fazem diferença nenhuma. Mas eu penso que se essa for a verdade, então a galinha nunca deixaria de ser ovo e o sapo não seria jamais sapo.

Contudo, é deveras consoladora a unanimidade dos componentes do painel principal no sentido de que o debate do tema não se esgotava nas opiniões por eles expressas, pois é imperioso que se respeitem as ideias dos demais concidadãos sobre o assunto.

Na verdade, estando em causa a escrita da História de todos os cidadãos moçambicanos, independentemente da opção política de cada um, é justo que evitemos que um grupelho se aproprie da trajectória histórica de todo um POVO. Então, vamos todos ao debate que deve ser orientado sem nenhuma espécie de recalcamento, ameaças veladas, ódio, desprezo ou desconsideração da opinião contrária expressa pelo nosso semelhante.

Com efeito, lendo atentamente os Estatutos do Partido Frelimo aprovados pelos Congressos subsequentes (5.o ao 9.o) , constata-se a existência de um esforço titânico para que o partido se designe por “a FRELIMO”, confundindo-o assim com a Frente de Libertação de Moçambique - FRELIMO, como se alguém estivesse arrependido pelo facto de em Fevereiro de 1977 ter criado aquele Partido.

Será que um linguista devidamente formado, com o mínimo de patriotismo e honestidade, concordaria que a designação de um Partido político seja antecedida do artigo definido feminino “a”? Ou, por outras palavras, será que a História é inimiga da verdade dos factos?

“Desde o V Congresso temos vindo a ajustar o Programa e Estatutos do Partido de modo a eliminarmos todas as limitações à participação no nosso seio de cidadãos que, concordando com o nosso projecto de sociedade, sentiam-se inibidos por questões ideológicas e de disciplina partidária. É assim que nos propomos promover uma democracia interna mais ampla, através do diálogo e do debate de ideias, da livre expressão de opinião dos nossos membros, num espírito de maior abertura e tolerância”, lê-se no n.o 2 do Capítulo III do Relatório do Comité Central ao 6.o Congresso do Partido Frelimo.

Fonte: Jornal Notícias - 08.02.2012

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