domingo, outubro 26, 2014

Os paisanos de “crachat”

Por Fernando Lima

Tem sido habitual nos últimos actos eleitorais a presença de uns senhores com ar respeitável junto às assembleias de voto que ninguém sabe quem são, sem “crachat”, mas que são no mínimo bem poderosos.
Entre outras coisas, davam ordens aos presidentes das mesas, aos polícias próximos das assembleias, a várias pessoas nas filas com ar de “controleiros de voto” e, sobretudo, com uma apetência particular para manterem longas conversas no telemóvel, sobretudo no momento do apuramento de resultados.
Os correspondentes locais, os que trabalham a nível dos distritos e províncias não têm dificuldades em identificar esses senhores como administradores, controleiros do partido Frelimo, agentes da segurança de Estado.

Como o assunto era matéria de discussão na CNE (Comissão Nacional de Eleições) e com a nova conjuntura no seio da comissão, saiu para estas eleições uma directiva proibindo a presença de pessoas sem o devido “crachat” nas imediações das assembleias.
Só que a directiva não fez desaparecer a tal fauna. Em Nicoadala e em Namacurra, onde passei parte do momento eleitoral, lá estavam os senhores habitualmente nas suas balalaicas “madiba”, vestes que o pessoal da segurança utiliza habitualmente para disfarçar a sua pistola pessoal na cintura.
Uma pequena “nuance”. Desta vez tinham “crachats”, quase todos com as palavras “STAE staff ”. Estavam muito mais calmos e discretos. Em nenhum momento os vi a dialogar com os presidentes de mesa. Mas não deixavam de “inspeccionar” os jornalistas no recinto de voto, incluindo com pretexto de pequenos diálogos “fait-divers”.
O único momento de nervosismo público foi quando começaram as contagens de votos. “Afonso”, “Nyusi”, “Afonso”, “Nyusi”. Um dos tais do ”crachat” espreitando pelas janelas da sala de aulas onde se faziam as contagens solicitou imperativamente pelo celular “precisamos mais recargas, vodacom e movitel, agora está a começar o nosso trabalho”.
Nem uma hora depois, cerca das 23, quando os resultados eram mais ou menos claros, como que por varinha mágica, os tais homens com o crachat “STAE staff ” desapareceram na noite.

Fica a dúvida se eram estes os homens da guarda avançada do potencial “plano B” de que tanto se falou antes das eleições.

Fonte: SAVANA - 24.10.2014

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