domingo, dezembro 07, 2014

SUCESSÃO NO ZIMBABWE: PARTIDO NO PODER ABRE VIA A PARA PRIMEIRA-DAMA

O partido no poder no Zimbabwe confirmou neste sábado como líder o presidente Robert Mugabe e colocou a primeira-dama num alto cargo, o que, na óptica de analistas, a situa como sucessora do chefe de Estado de 90 anos, no poder há mais de 30 anos.

"Quero agradecer-lhes profundamente por me terem escolhido mais uma vez para liderá-los", disse Mugabe diante de milhares de pessoas que o aclamavam durante o congresso do partido União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica (ZANU-FP, na sigla em inglês).

O congresso também confirmou Mugabe como candidato do partido com vistas às eleições de 2018.

Grace Mugabe, esposa do presidente, com 49 anos, foi escolhida líder da poderosa facção feminina do partido, o que a situa como sucessora do presidente, que está no poder desde a independência do país da Grã-Bretanha, em 1980.

"Estou feliz por realizar e oficializar o seu desejo, declarando-a secretária de Assuntos Femininos da ZANU-PF [União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica]", disse o chefe de Estado no último dia do congresso do seu partido, reunido esta semana em Harare. Com a medida, Grace entra automaticamente no bureau político do partido.

A primeira-dama demonstrou nos últimos meses uma surpreendente ambição política, que poderá levá-la ao poder.

"Amai!, Amai!" (Mamãe!, Mamãe!), gritaram os milhares de dirigentes da ZANU-PF reunidos no congresso em Harare, em alusão à primeira-dama.

Relativamente nova na cena política, Grace Mugabe surpreendeu em agosto passado, quando o seu marido propôs que ela presidisse a poderosa Liga das Mulheres do partido. Em seguida, a primeira-dama deixou a porta aberta para um dia assumir a chefia de Estado e fez campanha contra a sua rival, a vice-presidente Joice Mujuru, de 59 anos, acusada de corrupção e de participar num complôt contra Mugabe.

Caída em desgraça, Mujuru não participou no congresso do partido, já considerando perdido o seu cargo no comité central. Na quinta-feira, Robert Mugabe desautorizou-a publicamente diante dos delegados.

O presidente denunciou uma intriga e ameaçou Mujuru com acções penais, ao mesmo tempo em que lamentou tê-la escolhido vice-presidente do partido há dez anos.

Segundo Lovemore Madhuku, especialista em direito constitucional da Universidade do Zimbabwe, Mujuru tem chances legais de manter o cargo na vice-presidência do Zimbabwe, mesmo perdendo o posto de vice-presidente do partido, como está previsto. No entanto, há poucas chances de que vá fazê-lo. "Ela continua como vice-presidente [de Estado] após o congresso, excepto se for suspensa, se demitir ou morrer", disse o especialista à AFP. "A regra não escrita é que o vice-presidente do partido torna-se vice-presidente de Estado", acrescentou.


Fonte: Rádio Moçambique – 07.12.2014

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