sábado, abril 25, 2015

Nyusi está a cometer erros de um passado recente em Moçambique, diz analista

O jornalista e comentador moçambicano Fernando Lima defende que o Presidente moçambicano, nos seus cem primeiros dias, não apresentou resultados práticos para os problemas do país, considerando que Filipe Nyusi está cometer "os erros de um passado recente". 

"Eu tinha grandes expectativas sobre as respostas que este Presidente ia dar neste capítulo da história de Moçambique. Mas, em termos práticos, estão a surgir muitos pontos de interrogação", disse à Lusa Fernando Lima.
De acordo com o jornalista e administrador do grupo que publica o semanário Savana, durante os primeiros dias e através dos seus discursos, Nyusi gerou muitas expectativas na sociedade moçambicana, criando a ideia de que o seu Governo seria diferente do modelo protagonizado pelo seu antecessor, Armando Guebuza, nos últimos dez anos.
"Nyusi prometeu muito e criou muitas espectativas. Pensávamos que seria um Governo diferente do anterior, o que não está a acontecer", defendeu.
Os primeiros cem dias da governação de Filipe Nyusi assinalam-se hoje, num momento em que o país vive um clima de tensão política, associado à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido de oposição, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro e ameaça governar pela força, caso a maioria parlamentar da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, chumbe o seu projecto de províncias autónomas.
Para Fernando Lima, o Presidente moçambicano começa a deixar dúvidas sobre o seu compromisso com a paz e com o diálogo, o que "obscurece" a ideia de que adotaria um novo modelo na liderança do país.
"Primeiro, não me parece que toda prioridade esteja na paz e no diálogo e, segundo, estão a ser cometidos erros como num passado recente. Isso é mau e obscurece a expectativa de que ele seria um Presidente novo", afirmou Fernando Lima, considerando, a título de exemplo, as duas recentes presidências abertas feitas pelo chefe de Estado moçambicano, um controverso modelo de diálogo com a população associado a Armando Guebuza.
Depois de dois encontros entre Nyusi e o líder da Renamo, o clima de tensão política desanuviou no país, mas, nos últimos dias, o Presidente moçambicano endureceu o discurso, tendo afirmado na quinta-feira que não se iria "ajoelhar para pedir paz".
Para o analista, Nyusi está recuar na sua postura e a abraçar um discurso tradicional do partido no poder.
"Penso que o Presidente está recuar no seu discurso. Num primeiro momento, tínhamos um discurso de conciliação e, agora, temos um discurso tradicional da Frelimo", declarou Fernando Lima.
A eleição de Nyusi suscitou um debate político em Moçambique, com vários analistas a avisarem para o risco de existirem dois centros de poder no país, um exercido pela influente liderança de Armando Guebuza na Frelimo, outro por Filipe Nyusi na Presidência da República, mas há um mês o anterior chefe de Estado afastou-se e entregou o cargo ao seu sucessor.
Fernando Lima considera que a ascensão de Nyusi à liderança do partido Frelimo também criou demasiada expectativa e, de certa forma, "deixou a sociedade moçambicana impaciente", na esperança de ver resolvidos todos os seus problemas, e desejosa dever mais acções e menos palavras, principalmente na questão da paz e do diálogo com a Renamo.

Fonte: LUSA – 24.04.2015

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